LIÇÕES

Guia para Células 15-06-25

De 15 June à 21 June 2025

TEMA “SARADOS PELA GRAÇA”

TEXTO BÍBLICO: 2 Coríntios 12:7-9a, Romanos 7:24

 Como bem disse a Pastora Rose na semana passada, se parássemos para contar todas as vezes que o Senhor trouxe curas sobre nossas vidas, teríamos inúmeros relatos e testemunhos a ponto de ficarmos ocupados durante dias com os poderosos feitos de Deus. Quando nos deparamos com a palavra “sarados”, logo vem a nossa mente alguma enfermidade, principalmente no âmbito físico. Nesses dias tenho refletido em algo que vai além de uma cura física e que o Apóstolo Paulo apresenta para nós não apenas nesses dois trechos que lemos, mas em todos os seus textos: a profunda necessidade de sermos curados em nosso caráter ou, se preferirem, em nosso ego.

É fato que, desde a mais tenra idade, podemos observar, nos seres humanos, atitudes pecaminosas e que não condizem com a natureza transformada que Deus deseja para aqueles que são filhos. Não são poucas as oportunidades em que enxergamos uma falha de caráter até mesmo nas crianças que consideramos “puras” e “inocentes”. Quantas oportunidades você que é pai e mãe observou seus filhos(as) praticando um ato de mentira, egoísmo, difamação, ira, discórdia, contenda, agressividade, entre diversas outras maldades presentes até mesmo nos coraçõezinhos dessas criaturinhas que, há pouco, chegaram a este mundo. Infelizmente podemos observar adultos que nunca foram tratados espiritualmente para superarem essas falhas e que carregam consigo essas marcas, tornando-se homens e mulheres que evidenciam em seus atos a enorme separação existente entre a natureza pecaminosa do homem e aquela natureza restaurada por Deus. Não se engane, mesmo em nossas fileiras da igreja temos aqueles que nunca se permitiram serem tratados pelo Pai. Alguns sempre se opuseram a todo e qualquer tipo de confronto, exortação ou discipulado. Por vezes, fizeram da religião apenas um amuleto para sua segurança, prosperidade, conforto etc; nunca se propuseram ou se desafiaram a uma transformação radical da sua maneira de ser. Ou seja, fizeram dos cultos, orações, pregações e demais atividades, apenas ferramentas que buscam atender seus interesses pessoais; nunca se colocaram verdadeiramente humildes diante de Deus para serem tratados e curados por Ele.

Agostinho de Hipona uma vez escreveu um livro chamado Confissões. Muitos consideram esse o primeiro escrito autobiográfico ocidental. Nele, o autor confessa seus pecados da infância até sua conversão com aproximadamente 32 anos.  Nesse livro, temos o relato de um homem que passou por uma profunda transformação de vida e caráter. Ele mesmo diz que vivia buscando preencher o vazio que sentia em seu peito com prazeres e tentando encontrar respostas nas mais diversas fontes intelectuais e religiosas de seu período. Apenas um verdadeiro encontro com Jesus trouxe a tão almejada paz e felicidade que procurava. Em seus escritos ele declara: “Tarde Te amei, ó Beleza tão antiga e tão nova. Tarde Te amei! Trinta anos estive longe de Deus… Mas Tu Senhor compadeceste de mim e tudo mudou, porque Tu me deixaste conhecer-Te. Entrei no meu íntimo sob a Tua Guia e consegui, porque Tu Te fizeste meu auxílio. Eu era inquieto, alguém que buscava a felicidade, buscava algo que não achava… Os homens saem para fazer passeios, a fim de admirar o alto dos montes, o ruído incessante dos mares, o belo e ininterrupto curso dos rios, os majestosos movimentos dos astros. E, no entanto, passam ao largo de si mesmos, não se arriscam na aventura de um passeio interior”.

Muitos, em nossa geração, infelizmente, ainda persistem em fugir de um verdadeiro encontro com Deus e consigo mesmo. Continuam recusando um tratamento espiritual que, por vezes, pode ser sim doloroso, mas que de fato transforma, liberta e cura as nossas vidas.

Se temos alguém que pode ser usado como referencial para essa reflexão que estamos trazendo é o apóstolo Paulo. Em toda a Escritura, não consigo lembrar-me de outro que, com tanta humildade, expôs suas fraquezas, lutas, fracassos e vitórias para a construção de um caráter transformado. Mas,o que esse homem pode nos ensinar?

1) Reconhecimento – “Miserável homem que sou”

Como todo tratamento, o primeiro passo necessário é o paciente reconhecer sua condição e, então, a partir disso, empenhar-se para alcançar a restauração. Enquanto o doente não entender e reconhecer seu estado, nunca se enxergará como doente e jamais se envolverá com responsabilidade nos cuidados da sua enfermidade. Quantos homens e mulheres infelizmente caminham dentro do princípio da negação: “está tudo bem”, “não tem nada de errado comigo”, “eu sou assim mesmo e não tem como mudar”, “esse é meu jeito de ser” e por aí vai…

Existe um mal que cerca nossa humanidade: a necessidade de viver de aparência, sempre buscando passar para aqueles que estão ao nosso redor, uma imagem de sucesso, felicidade, força, vida financeira bem-sucedida… Que tamanha humildade (ou coragem!) é necessária, diante de um mundo como esse, para se revelar uma pessoa que, como o Apóstolo Paulo, pode reconhecer, assumir e anunciar: “miserável homem que sou” (Romanos 7:24)! Ou, em outros momentos, dizer: “fico feliz em me gabar das minhas fraquezas” (2 Coríntios 12:9)! Declarações como essas escandalizam o modo de funcionamento desta terra, combatem a filosofia diabólica deste mundo, geram um testemunho cristão transformador que traz impacto.

2) Submissão – “A minha graça te basta”.

Infelizmente a filosofia contemporânea ensina que tudo precisa nos servir e favorecer nosso bem-estar físico, emocional, financeiro e tudo mais. Afinal, não acabamos de ver no tópico acima que o mundo prega que somos o centro de tudo?

No texto de 2 Coríntios, o apóstolo experimenta algo que, para muitos, pode ser motivo de murmúrio e até mesmo desistência da fé cristã: por três vezes orou para ser liberto do espinho que havia em sua carne e nenhuma cura ocorreu. O entendimento de Paulo é que a cura do seu ego era mais importante e valiosa que sua cura física. Cabia a ele aceitar a soberania e os desígnios de Deus, enxergando como preciosa aquela fraqueza. Quantos de nós podemos dizer que nos submeteríamos com tamanha confiança em Deus como o apóstolo? Quantos de nós aceitaríamos com bom grado não termos nossas orações e desejos atendidos por Ele? Quantos ficariam honrados de saber que as situações mais desconfortáveis que enfrentamos na vida têm o aval do Senhor para o nosso próprio bem? Quantos ficariam satisfeitos, entendendo que talvez seja a vontade do Pai que essas circunstâncias dolorosas permaneçam assim?

A vontade de Deus nem sempre coincidirá com a nossa. Em muitos momentos é difícil reconhecer que “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus” (Romanos 8:28), porém somos desafiados a enxergar como Paulo, submeter-nos ao querer do Pai, transformar/renovar nossa mentalidade e experimentar do que o próprio apóstolo declara ser “bom, perfeito e agradável” (Romanos 12:2).

Quando nossas vontades e orações não forem respondidas, quando tudo não estiver da maneira como gostaríamos, que possamos viver felizes e satisfeitos ao ouvir do Senhor “a minha graça te basta” (2 Coríntios 12:9).

3) Preenchimento pela graça – “Me gloriarei nas minhas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo”

Confesso que não temos uma tarefa simples. Nosso referencial de caráter é nada mais e nada menos que o próprio Cristo. Sermos “sua imagem e semelhança” não deve ser apenas uma vontade, mas nosso dever. Em um mundo extremamente egocêntrico, constantemente reforçando essa mensagem de autocentrismo para nós, é desafiador renunciar ao meu próprio “eu” e expressar algo tão profundo como Paulo: “não vivo mais eu, mas Cristo vive em mim” (Gálatas 2:20), ou também dizer “Ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou” (2 Coríntios 5:15).

O esvaziamento das coisas do mundo traz consigo o preenchimento pelos valores céus; o esvaziamento do homem abre espaço para o encher-se de Deus. Que cada dia possamos desistir de ser cheios de nós mesmos e, assim, abrir espaço para que o poder de Deus nos preencha. Lembre-se: “Quando renuncio à minha própria vida para que Cristo viva em mim, o caráter que será manifestado é o dele e não o meu. Por mais árdua que seja nossa tarefa de sermos semelhantes a Cristo, que possamos gastar nossa vida nesse propósito. Vivamos o que Martin Luther King dizia: “Ainda não sou quem eu gostaria de ser, mas graças a Deus, já não sou quem eu era.”

Conclusão:

Assim diz a canção da banda Resgate: “hoje a morte do meu ego está fazendo aniversário”. Meu desejo sincero é que possamos vivenciar, todos os dias, a morte desse ego e tomarmos posse da vida plena, curada e transformada que Deus tem para nós.

Chega a ser irônico pensar que a maior cura que podemos viver em nossa vida começa na verdade, em um processo de morte. Testemunhos de curas físicas são impactantes e revelam o poder do nosso Deus, mas nenhum desses relatos são tão grandiosos quanto aqueles que revelam a transformação que ocorre na vida de quem morreu para si e entregou sua vida para Deus. É aí que podemos ouvir sobre famílias que foram restauradas; vícios que foram superados; contextos sociais alterados; mas acima de tudo, homens e mulheres que abandonaram pecado e obtiveram uma total transformação em seus caracteres. Nenhuma cura é maior do que aquela que traz a salvação e restauração espiritual do homem.

Concluindo, aqueles assim vivem, reconhecendo que são fracos, que precisam morrer para si e que buscam ser cheios do Espírito, têm suas vidas transfiguradas. Há uma mudança drástica e muitas vezes transformadora na aparência ou em seu estado. Possuem, assim, a capacidade de declarar como Paulo: “sejam meus imitadores como eu sou de Cristo” (1 Coríntios 11:1). Esse é o mais forte e poderoso testemunho de cura que alguém pode contar!

Pastor Bruno Ferigato

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