LIÇÕES

Guia para Células 20-07-25

De 20 July à 26 July 2025

“Graça a vós, e paz da parte de Deus nosso Pai e da do Senhor Jesus Cristo.” Filipenses1:2

Introdução

​Antes de irmos para o conteúdo principal dessa reflexão, gostaria de me ater primeiro a uma pergunta: Como você cumprimenta as outras pessoas? Já teve a oportunidade de analisar esse comportamento seu?

​Cada um de nós possui uma característica única quando se trata desse assunto. Em São Paulo eu tinha um amigo que gostava de abraçar e usar a expressão “ô Vaso”; em Tocantins havia uma ovelha que tinha um aperto de mão forte e utilizava a frase “Fala Abençoado”; nosso bispo usa muito a expressão “Fala Mestre” para cumprimentar as pessoas; já eu tenho o costume de dar um abraço de lado, dar um tapa no ombro, como sou baixinho costumo apertar a cabeça no peito do amigo e dizer “Fala comigo”, “E aí Mano”, por aí vai.

​Não sei quantos de vocês já tiveram a curiosidade de reparar e analisar as diversas formas existentes de cumprimentar uns aos outros.  Nós, brasileiros, temos o hábito de falar um “oi”, “olá”, “fala amigo”…  seguido de um aperto de mão ou, quando encontramos algumas pessoas mais próximas, abraçamos e distribuímos beijos com as bochechas – mas não existe uma regra estabelecida se devemos dar um, dois ou três beijos, variando entre as bochechas.

​Quando analisamos a cultura de outros povos, podemos ver diversas expressões de saudações, cada uma mais diferente da outra. Por exemplo, os povos orientais o aperto de mão é uma prática estranha, por isso os japoneses costumam curvar- se com as mãos coladas junto ao corpo, como forma tradicional e comum; quanto mais você se inclina, mais respeito demonstra pelo outro. Na Índia, esse padrão se repete, porém, dessa vez, as mãos ficam coladas juntas ao coração, como se estivessem fazendo uma oração e acrescenta-se a expressão “Namastê” – que traduzido significa “curvo-me perante ti”. Já na Nova Zelândia, os Maoris tocam e esfregam o nariz uns dos outros; essa saudação é chamada de Hongi “o compartilhar do sopro da vida”. No Zimbábue e Moçambique as palmas são as boas-vindas ao próximo, a primeira pessoa aplaude uma vez e a segunda, duas vezes em resposta. Mas, para mim, o mais exótico e peculiar fica com os povos do Tibete que costumam mostrar a língua como desejo de paz.

Sobre o texto que lemos

O que lemos em Filipenses 1:2 é a saudação comum que Paulo utilizava para se dirigir às igrejas, amigos e discípulos. A expressão “Graça a vós, e paz da parte de Deus nosso Pai e da do Senhor Jesus Cristo” é vista também em todas as demais cartas escritas pelo apóstolo, como Romanos 1:7, 1 Coríntios 1:2, Gálatas 1:3, Efésios 1:2, Colossenses 1:3, 2 Tessalonicenses 1:2. Outras seguem o mesmo padrão, acrescentando um pequeno detalhe na sua estrutura “graça, misericórdia e paz da parte de Deus nosso pai, e da de Cristo Jesus, Senhor nosso” (2 Timóteo 1:2, Filemom 1:3 e Tito 1:4).

Quando estava na faculdade de Teologia, logo no início do curso, tive uma matéria sobre redação. A intenção era desenvolver o aluno na prática da leitura e escrita. Nessa aula aprendi algo que mudou a minha leitura para sempre, uma ferramenta chamada “tópico frasal”. A ideia é simples: tópico frasal é um artifício utilizado pelos escritores que, logo nos primeiros parágrafos, resume (geralmente em uma única frase) a ideia central do que será desenvolvido no restante do capítulo.

Podemos considerar que todo o escrito desse apóstolo revelava seu testemunho cristão e tinha o intuito de instruir seus ouvintes a uma vida verdadeiramente marcada pela transformação e ação de Deus. Ao analisar essa saudação de Paulo, por menor que seja, vemos nela um resumo da profundidade teológica dos seus escritos, onde encontramos revelações do espírito, orientações, ensino, exortações necessárias, fortalecimento da fé, desenvolvimento do caráter cristão etc.

Essa pequena forma de cumprimento de Paulo pode parecer simples, mas na verdade guarda e revela as marcar daqueles que verdadeiramente são “sarados pela graça”. Vamos destrinchá-la ponto a ponto e ver nos em seus detalhes essa verdade.

Graça a vós

“Porque pela graça sois salvos” Efésios 2:8

Como uma palavra tão pequena pode ser tão impactante e mudar tanto a história? Paulo era Fariseu e profundo conhecedor das leis do Senhor, ainda assim, através da sua experiência de conversão, percebeu que a salvação não vinha pelas suas obras, mas única e exclusivamente pela graça de Deus revelada na vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo.

A graça demonstra que nada que temos, somos ou podemos fazer nos garante algum mérito diante do Senhor. A verdade é que Ele, na sua infinita misericórdia e graça, nos alcançou. Mesmo sendo indignos, Ele escolheu pagar a dívida que era contrária a nós (Colossenses 2:13-15). Estar longe da graça é buscar de maneira desenfreada aprovação através dos cumprimentos das leis. Paulo nos alerta sobre viver debaixo desse jugo, exortando que não é pelo muito fazer que teremos direito a algo: Separados estais de Cristo, vós que vos justificais pela lei; da graça tendes caído” (Gálatas 5:4). Infelizmente, muitos ainda não tiveram a oportunidade de serem impactados pela graça de Deus, vivendo uma fé legalista e uma religiosidade morta.

​Assim como Paulo, outros grandes homens de Deus precisaram ter um verdadeiro encontro com a revelação da graça para entenderem sobre a justificação por meio dela. Falar sobre graça é também recordar doutrinas basilares e centrais de nossa igreja, afinal o movimento da Reforma protestante passa diretamente por ela. Recordemos Lutero e sua profunda transformação espiritual, lendo Romanos 3:24: “sendo justificados gratuitamente pela graça”. A graça foi algo também precioso para John Wesley e sua experiência do coração aquecido; afinal, tudo ocorreu enquanto ouvia o prefácio de Lutero à epístola aos Romanos.

Homens e mulheres verdadeiramente são “Sarados” (espiritualmente) quando compreendem, reconhecem, experimentam e vivem mediante a graça de Deus. Busque essa realidade espiritual para sua vida, caso ainda não tenha obtido. Vimos anteriormente bons exemplos de homens que tiveram durante muito tempo uma prática de fé deturpada até serem impactados por essa pura revelação. Esse pode ser o seu tempo de ter uma vida e fé transformada.

A Paz

A paz é um tema recorrente e precioso nos escritos de Paulo. O apóstolo parece atestar que ela é uma marca daqueles que se proclamam cristão. Em Romanos 14:17 ele mesmo diz: “Pois o Reino de Deus é justiça, paz e alegria”. Ou seja, todos aqueles que se declaram pertencentes ao reino de Deus são testemunhas vivas e carregam consigo a cultura desse reino ao qual pertencem.

Vemos na vida de Paulo inúmeros desafios enfrentados: fome, perseguição, açoites, prisão etc. Mas, ao mesmo tempo, o apóstolo sempre reafirma a paz que o acompanhava em toda e qualquer situação. Aliás, muitos de seus escritos sobre paz foram feitos enquanto estava encarcerado. Em Filipenses 4, por exemplo, ele menciona “e a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o coração e a mente de vocês em Cristo Jesus”. Para o povo de Tessalônica ele diz: “Que o próprio Senhor da paz lhes dê paz em todos os momentos e situações”.

Paz, portanto, se torna uma realidade e uma marca indelével de todos aqueles que são “sarados pela graça”. Esses entendem que a paz não está baseada nas circunstâncias ao seu redor, mas está firmada em Cristo e por isso não pode ser abalada. Somos desafiados a não andarmos ansiosos de coisa alguma (Filipenses 4:6), sempre, porém, buscando suporte e paz através da nossa fé em Jesus “Porque Ele é a nossa paz” (Efésios 2:14).

Deus nosso Pai

“Mas recebestes o Espírito de adoção de filhos, pelo qual clamamos: Aba, Pai” Romanos 8:15

​É impossível falar de uma vida verdadeiramente sarada espiritualmente sem que se toque nesse tema. A compreensão de nossa filiação é de extrema importância para que tenhamos um relacionamento íntimo e saudável com nosso Deus, entender nossa identidade de filhos é fundamental para uma caminhada de fé que esteja alinhada com a Sua vontade.

Paulo nos revela duas dimensões: podemos viver como filhos ou então como escravos. Somos alertados a ter uma fé sarada, entendendo que pela graça de Deus fomos chamados a adoção e que essa é a boa vontade de Deus para todos nós (Efésios 5:5).

No contexto atual em que bons exemplos de paternidade estão tão escassos e muito disfuncionais, nosso desafio é não associarmos essas experiências negativas ao nosso relacionamento com Deus, mas, pelo contrário, nos lançarmos Nele na expectativa de descobrirmos na profundidade dessa experiência, um vínculo íntimo, profundo e de cuidado como toda paternidade deve ser. Ele é um Deus que nos vê como filhos.Que  possamos aprender a enxergá-lo como Paizinho.

Portanto, essa se torna mais uma característica daqueles que são “Sarados pela graça”: eles venceram o espírito de orfandade e verdadeiramente se enxergam como filhos.

Nosso

“Assim nós, que somos muitos, somos um só corpo em Cristo, mas individualmente somos membros uns dos outros” (Romanos 12:5)

Outra marca daqueles que são verdadeiramente “Sarados pela graça” é que eles não caminham só. Individualidade, egoísmo e tantos outros sinais como esses não devem ser parte da realidade de homens e mulheres que anseiam cumprir e carregar o bom testemunho cristão. Pelo contrário, eles compreendem a necessidade de estarem caminhando juntos de outros irmãos que professam a mesma fé e entendem que essa unidade é algo vital para sua caminhada, afinal, nesse relacionamento com o próximo, somos desenvolvidos, edificados, exortados e moldados segundo a vontade de Deus.

Paulo utiliza a analogia do corpo também em 1 Coríntios 12:12-27 para descrever que não há vida longe do corpo, ou seja, caminhar sem estar aliançado com outras pessoas é o mesmo que estar morto espiritualmente. Se desejamos verdadeiramente viver na dimensão daqueles que são “sarados pela graça”, precisamos empenhar para caminhar em unidade.

Na verdadeira caminhada cristã não existe o “eu”, existe o “nós (nosso)”. Como dizia o poeta:

“Um nó, dois nós

​Eu, mais um ou mais, um ser simplesmente

​O eu poético do verdadeiro encontro

​Nó, no plural, nós

​Se o nó é na garganta e um de nós aflito

​O outro sossegado, erudito, tem o antídoto

​E assim, sucessiva, alternada

​E alternativamente, amigos

​Do saber, no lazer, no ócio e no labor

​Buscando o equilíbrio, temperante

​Dás-me que dou todo meu ser

​Todo meu querer ser

​Todo ouvido, havendo ouvido

​E por seus conteúdos movido

​Cada indivíduo vai e ver vir ávido dizer…

​Conte comigo!

​Práxis edificante”

Roberto Diamanso

Senhor Jesus Cristo

Por fim, “Sarados pela graça” são aqueles que reconhecem o senhorio de Cristo, são submissos e compreendem a quem devem obediência. Cristo não é alguém qualquer ou um objeto místico para atender suas necessidades pessoais e suprir suas carências emocionais, materiais, físicas ou espirituais.

Nessa fé não existe espaço para egolatria (idolatria ao próprio ego). Cristo é o seu dono e Senhor. Os que assim vivem estão sempre declarando “para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro” (Filipenses 1:21). Reconhecem que tudo é Dele: “Porque Dele, e por Ele, e para Ele, são todas as coisas” (Romanos 11:36).  Assim como Paulo, se autointitulam “Prisioneiro de Cristo” (Filemom 1:1), pois sabem que não vivem mais para si, mas para Aquele que por eles morreu e ressuscitou (2 Coríntios 5:15-17).

Essa é a verdadeira fé dos que são “sarados pela graça”. Aqueles que ao cumprirem sua missão podem declarar contentes e fiéis: “Combati o bom combate, completei a carreira e guardei a fé” (1 Timóteo 6:10).

Meu desejo profundo é que você viva a realidade de uma fé transformada e sarada, experimentando de todos esses tópicos que aqui foram mencionados, tendo na sua vida a mesma experiência que Paulo teve.

Do seu amigo e pastor,

Bruno Ferigato

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