LIÇÕES

Devocional 03-05

3 de Maio

Leitura bíblica: Romanos 8.16

Coube mais de perto aos chamados Metodistas o terem compreendido, explanado e defendido esta doutrina, que constitui uma grande parte do testemunho que Deus lhes encarregou de dar a toda à humanidade. Foi por esta bênção peculiar, derramada sobre eles, no pesquisar as Escrituras, que a grande verdade do Evangelho se restaurou, após ter estado por muitos anos perdida e esquecida.

Mas o que é o testemunho do Espírito? A palavra original μαρτυρiα, pode ser traduzida como a testemunha (como ocorre em vários lugares), ou, de modo menos ambíguo, o testemunho ou o relato. Assim é traduzida em nossa versão (1ª João 5.11): “este é o relato”, o testemunho, a suma do que Deus testifica em todos os escritos inspirados, “que Deus nos deu a vida eterna, e esta vida está em seu Filho”. O que Ele nos testifica é “que somos filhos de Deus”. O imediato resultado deste testemunho são “os frutos do Espírito”, isto é, “amor, alegria, paz, longanimidade, ternura, bondade…”. Sem estes frutos, o testemunho não pode permanecer, sendo inevitavelmente destruído, não só pela prática de qualquer pecado exterior, ou pela omissão de qualquer dever conhecido, mas por dar lugar a algum pecado interior; numa palavra: por qualquer ofensa feita ao Espírito de Deus.

Observei, faz já muitos anos: “é difícil encontrar palavras na linguagem dos homens que expliquem as coisas profundas de Deus. Na verdade, ninguém há que possa adequadamente expressar o que o Espírito de Deus opera em seus filhos. Mas talvez alguém diga: pelo testemunho do Espírito quero dizer uma impressão interna da alma pela qual o Espírito de Deus imediata e diretamente testifica a meu espírito que eu sou filho de Deus; que Jesus Cristo me amou e se deu a si mesmo por mim; que todos os meus pecados são apagados e eu, sim, eu, sou reconciliado com Deus”.

Entretanto, observa-se que não quero dizer aí que o Espírito Santo testifique a alma por meio de voz exterior. Nem que o faça sempre por meio de voz interna, embora algumas vezes isto possa acontecer. Mas o Espírito opera sobre a alma por sua imediata influência, e por uma forte, embora inexplicável, atuação, que apazigua os ventos tempestuosos e as ondas revoltas, fazendo aí reinar doce bonança: o coração como que repousa nos braços de Jesus e o pecador claramente sente que Deus está reconciliando, que todas as suas “iniquidades estão perdoadas e seus pecados cobertos”.

A Palavra de Deus diz que todo o homem que produz os frutos do Espírito é filho de Deus: a experiência, ou consciência íntima, diz-me que eu tenho os frutos do Espírito. Daí, racionalmente concluo: “logo sou filho de Deus”. Os frutos do Espírito decorrem imediatamente desse testemunho, nem sempre, na verdade, em medida igual, quando o testemunho é inicialmente dado, e, muito menos, depois. Quando nosso espírito é cônscio disto – de amor, alegria, paz, longanimidade, ternura, bondade –, ele facilmente infere de tais premissas que somos filhos de Deus.

Assim diz o apóstolo: “temos recebido, não o espírito de escravidão, mas o Espírito de adoção, pelo qual clamamos: Abba, Pai!”. E segue: “o próprio Espírito testifica com nosso espírito que somos filhos de Deus”. Mais além, esta verdade é explanada no texto paralelo (Gálatas 4.6): “porque somos filhos, Deus enviou o Espírito de seu Filho aos nossos corações, exclamando: Abba Pai!”. Não é isto alguma coisa imediata e direta, em vez de ser resultado de reflexão ou argumentação? Todos esses textos, em seu sentido mais intuitivo, descrevem, pois, o testemunho direto do Espírito.

Devemos ser santos de coração e de vida antes que possamos ser conhecedores de que o somos. Mas, devemos amar a Deus antes de sermos santos, visto ser esse amor a raiz de toda a santidade. Não podemos amar a Deus até que conheçamos que Ele nos ama: “amamo-lo porque ele primeiro nos amou”. Não podemos conhecer seu amor para conosco, até que Seu Espírito o testifique a nosso espírito. Enquanto isto não acontecer, não podemos crer; não podemos dizer: “a vida que eu agora vivo, vivo-a pela fé no Filho de Deus, que me amou e deu-se a si mesmo por mim”. Então, somente então, sentimos Nosso interesse em seu sangue, e exclamamos, com indizível alegria: “Tu és meu Senhor, meu Deus!”. Amém!

John Wesley

[Adaptado de: Sermão 11: O testemunho do Espírito: discurso 2[1]].


[1] https://www.metodista.org.br/sermoes-de-john-wesley-disponiveis-para-download