LIÇÕES

Devocional 04-05

4 de Maio

Leitura bíblica: Romanos 8.16

O mesmo Espírito, testificando a meu espírito que sou filho de Deus, dá-me evidência disto, e eu imediatamente clamo: “Abba, Pai!”. E isto, faço (e tu o fazes), antes de refletir sobre os frutos do Espírito, ou de estar cônscio desses frutos. Deste testemunho recebido é que decorrem o amor, a alegria, a paz e todos os frutos do Espírito.

Primeiro, eu ouço: “teus pecados são perdoados! Estás aceito!”. Ouço – e o céu se abre em meu coração! Alguns podem dizer: “não tenho paz; meu coração é um mar tormentoso”. “Sou todo trovões e tempestades.” E, de que modo podem essas almas ser possivelmente confortadas, senão por um testemunho divino (não de que sejam homens bons, sinceros ou conformados com a Escritura em coração e vida), mas de que Deus justifica o ímpio? O ímpio que, até o momento em que é justificado, é todo impiedade, falta de toda verdadeira santidade; o ímpio, “que não trabalha”, que nada faz que seja verdadeiramente bom, até que seja consciente de que é aceito, não por quaisquer “obras de justiça que tenha feito”, mas por mero e livre favor de Deus; exclusiva e totalmente pelo que o Filho de Deus fez e sofreu por ele. E, poderia ser de outro modo, se “o homem é justificado pela fé, sem as obras da lei?”.

Se assim é, de que bondade interior ou exterior pode ele ser consciente, antes de sua justificação? Demais, o fato de nada termos com que pagar, isto é, de estarmos certos de que “não há em nós nenhum bem”, nem bondade interna ou externa, é essencial e indispensavelmente necessário, antes que possamos ser “justificados livremente através da redenção que há em Cristo Jesus”.

O testemunho do Espírito é uma impressão interior feita sobre a alma dos crentes, pela qual o Espírito de Deus diretamente testifica seu espírito que eles são filhos de Deus. O verdadeiro testemunho do Espírito é conhecido por seus frutos: “amor, paz, alegria”; não, em verdade, precedendo ao testemunho, mas seguindo-o. O Espírito Santo, testificando com nosso espírito, garante-nos de todo o erro. E, finalmente, todos nós estamos sujeitos a provações, nas quais o testemunho de nosso próprio espírito não é suficiente; nas quais nada menos do que o testemunho direto do Espírito de Deus pode assegurar-nos que somos seus filhos.

Se o Espírito de Deus realmente testifica que somos filhos de Deus, a consequência imediata serão os frutos do Espírito, ou seja, “amor, alegria, paz, longanimidade, ternura, bondade, fidelidade, mansidão, temperança…”. E, conquanto esses frutos possam ocultar-se por um pouco, em tempos de forte tentação, ainda a parte substancial dos frutos permanece, mesmo debaixo da nuvem mais espessa. É verdade que a alegria no Espírito Santo pode ser retirada, à hora da provação. A alma pode estar “em tristeza mortal” enquanto decorre a “hora do poder das trevas”. Mas, em geral, ela será enfim restaurada com acréscimo, de modo que se regozije “com alegria indizível e cheia de glória”.

Mas, que ninguém descanse em pretensos frutos do Espírito, sem o testemunho. Pode haver antegozo de alegria, de paz, de amor, e não ilusório, mas provindo realmente de Deus, muito tempo antes de termos o testemunho em nós mesmos, antes que o Espírito de Deus testifique como o nosso espírito que temos “redenção no sangue de Jesus e perdão dos pecados”. Sim, pode haver certa longanimidade, ternura, fidelidade, mansidão, temperança, antes de “sermos aceitos no Amado” e, consequentemente, antes de termos testemunho de nossa aceitação. Não é, contudo, aconselhável que se descanse nisso. Se o fizermos, nossa alma estará em perigo. Se formos sábios, clamaremos continuamente a Deus, até que seu Espírito clame em nossos corações: “Abba, Pai!”.

Este é o privilégio de todos os filhos de Deus – e sem ele jamais poderemos alcançar uma paz estável, nem evitar perplexidade e temores. Mas quando uma vez temos recebido o Espírito de adoção, essa “paz que excede a toda compreensão” e que exclui toda dúvida angustiosa e todo receio, “guardará nossos corações e mentes em Cristo Jesus”. E, quando se produzirem os frutos genuínos desse testemunho, em toda santidade interior e exterior, indubitavelmente a vontade daquele que nos chamou será dar-nos sempre aquilo que já uma vez nos foi dado, de modo que não haverá necessidade de sermos jamais privados do testemunho do Espírito de Deus ou de nosso próprio espírito, da consciência de que andemos em toda a justiça e em verdadeira santidade. Amém!

John Wesley

[Adaptado de: Sermão 11: O testemunho do Espírito: discurso 2[1]].


[1] https://www.metodista.org.br/sermoes-de-john-wesley-disponiveis-para-download