2 de Abril
Leitura bíblica: 1ª João 3.9
Com frequência se pensa que ser nascido de Deus é o mesmo que ser justificado; que o novo nascimento e a justificação são apenas variantes da expressão com que se designa a mesma coisa. É certo que, de um lado, o que é justificado é também nascido de Deus, e, de outro lado, é verdade que todo o que é nascido de Deus é também justificado, sendo que ambos os dons de Deus são conferidos a todo crente, no mesmo instante. Num abrir e fechar de olhos seus pecados se cancelam e o crente é de novo nascido de Deus.
Embora se reconheça que a justificação e o novo nascimento sejam, quanto ao tempo em que se produzem, inseparáveis, somos forçados a admitir que, sob outro aspecto, facilmente se distinguem ou do outro, não sendo a mesma coisa, mas, ao revés, coisas de natureza inteiramente diversa. A justificação somente implica em mudança relativa; o novo nascimento representa mudança real. Justificando-nos, Deus nos concede alguma coisa; gerando-nos de novo, Ele opera alguma coisa em nós. A primeira muda nossa relação exterior para com Deus, de modo que, de inimigos que éramos, nos tornamos filhos de Deus; o último tem como consequência a mudança íntima de nossas almas, de modo que, de pecadores que éramos, nos fazemos santos.
Quando passamos por essa grande mudança, podemos dizer com muita propriedade que nascemos outra vez, porque há tão estreita semelhança entre as circunstâncias do nascimento natural e as do nascimento espiritual, que considerar as primeiras, isto é, as que envolvem o nascimento natural, é o processo mais simples para chegarmos à compreensão do nascimento espiritual.
Tendo considerado o que quer dizer a expressão: “o que é nascido de Deus”, resta-nos inquirir, em segundo lugar, em que sentido “ele não comete pecado”. Ora, o que é nascido de Deus, crendo, amando e constantemente percebendo, pela fé, a ação de Deus sobre seu espírito, retribui, por uma espécie de reação espiritual, a graça que recebe, com incessante amor, louvor e oração. E assim não só não comete pecado, enquanto se guarda a si mesmo, mas, durante o tempo em que essa “semente permanece nele, não pode pecar, porque é nascido de Deus”. Enquanto assim crê em Deus através de Cristo, ama-o, derrama o coração diante dele e não pode voluntariamente transgredir nenhum mandamento de Deus, nem falando, nem agindo de forma que saiba ser proibido por Deus: enquanto aquela semente nele permanece, a fé, que se expressa em amor, oração e louvor, compele-o e refreia-se de tudo que saiba ser abominável à vista.
John Wesley
[Adaptado de: Sermão “O grande privilégio dos que são nascidos de Deus”. Disponível em: https://www.metodista.org.br/sermoes-de-john-wesley-disponiveis-para-download]