4 de Abril
Leitura bíblica: 1ª João 3.9
É fato conhecido que muitos, a despeito de tudo, não somente podem cometer, mas na realidade cometem pecado. Assim, Davi foi inquestionavelmente nascido de Deus; do contrário, jamais teria sido ungido rei de Israel. Sabia em quem cria. “O Senhor – diz ele – é o meu Pastor, nada me faltará. Ele me levará a verdes pastos e às águas vivas me conduzirá. Ainda quando eu ande no vale da sombra da morte, nada temerei; porque tu estás comigo” (Sl 23.1). Estava cheio de tal amor que o constrangia com frequência a exclamar: “amar-te-ei, ó Senhor, minha fortaleza; o Senhor é minha rocha e minha defesa; a haste de minha salvação e meu refúgio” (Sl 18.1-2). Era homem de oração; em todas as circunstâncias da vida derramava a própria alma no seio de Deus; era pródigo em súplicas e ações de graças. “Teu louvor – dizia – jamais se apartará de minha boca” (Sl 34.1); “Tu és meu Deus e eu te darei graças; tu és meu Deus e eu te louvarei” (Sl 128.28). E, contudo, esse filho de Deus podia cometer e de fato cometeu pecado, sim, os horríveis pecados de adultério e de homicídio!
Esclareçamos este ponto por um exemplo particular: Davi era nascido de Deus e via a Deus pela fé. Amava a Deus em sinceridade. Podia verdadeiramente dizer: “a quem tenho eu nos céus, senão a ti? E nada há sobre a terra, nem pessoa, nem coisa, “que eu deseje em competição contigo”. Mas ainda permanecia em seu coração a corrupção da natureza, que é a semente de todo o mal. “Estava ele passeando no terraço de sua casa” (2ª Sm 11.2), provavelmente louvando ao Deus a quem amava sua alma, quando, olhando para baixo, viu Bethseba. Davi caiu em tentação; veio-lhe um pensamento que tendia para o mal. O Espírito de Deus não deixou de convencê-lo do perigo. Sem dúvida, ele ouviu e reconheceu a voz acauteladora; mas o rei de algum modo rendeu-se ao pensamento e a tentação começou a prevalecer contra si. Daí seu espírito se tornou contaminado; viu ainda a Deus, mas não com igual nitidez, nem com a mesma força e ardor de afeição.
Quanto mais o crente examinar o próprio coração, mais se convencerá disto: a fé, operando por amor, exclui o pecado, tanto interior como exterior, da alma que vigia em oração; que, não obstante, estamos sujeitos à tentação, principalmente ao pecado que comodamente nos rodeia; que, se os olhos da alma, cheios de amor, permanecerem fitos em Deus, a tentação logo se dissipará.
Do que tem sido dito, aprendemos o que é a vida de Deus na alma do crente; em que ela propriamente consiste e o que imediata e necessariamente se acha aí implícito. Imediata e necessariamente implica na contínua inspiração do Espírito Santo, o sopro de Deus na alma e a respiração da alma retribuindo o que primeiro recebeu de Deus; implica numa contínua ação de Deus sobre a alma, e numa reação da alma para com Deus; implica na incessante presença de Deus, do Deus que ama e perdoa, revelada ao coração e apreendida pela fé; implica numa constante retribuição de amor, louvor e oração, oferecendo nós todos os pensamentos de nosso coração, todas as palavras de nossos lábios, todas as obras de nossas mãos, todo nosso corpo, alma e espírito para serem um sacrifício santo, aceitável a Deus em Cristo Jesus!
John Wesley
[Adaptado de: https://www.metodista.org.br/sermoes-de-john-wesley-disponiveis-para-download].