7 de Março
Leitura bíblica: João 3.7
Por que precisamos nascer de novo? Qual é o fundamento da doutrina do novo nascimento? Como podemos nascer de novo? Qual é a natureza do novo nascimento? E, para que devemos nascer de novo? Para que fim isto é necessário?
Primeiro, o fundamento do novo nascimento remonta tão longe e tão profundamente como à criação do mundo. Na descrição bíblica desse evento lemos: “e Deus”, o Deus Trino, “disse: façamos o homem à nossa imagem e segundo nossa semelhança”. Assim, Deus criou o homem à sua própria imagem, à imagem de Deus o criou” (Gn 1.26,27). Deus é cheio de justiça, misericórdia e verdade: assim era o homem ao sair das mãos de seu Criador. Deus é imaculada pureza. E assim era o homem no começo, puro de toda mancha pecaminosa. De outro modo, Deus não o teria achado, assim como a todas as demais obras de suas mãos, “muito bom” (Gn 1.31).
Porém, o homem não permaneceu em glória; caiu de sua alta condição. Ele “comeu da árvore a respeito da qual o Senhor lhe havia recomendado, dizendo: tu não comerás dela”. Por esse ato voluntário de desobediência ao seu Criador, o homem abertamente declarou que não mais queria que Deus o governasse, e que não pretendia buscar sua felicidade em Deus, mas no mundo, nas obras de suas mãos. E em Adão todos morreram, toda a espécie humana, todos os filhos dos homens que então estavam nos lombos de Adão. A consequência natural disso é que todo descendente seu vem ao mundo espiritualmente morto, morto para Deus – em pecados, destituído da imagem de Deus, de toda aquela justiça e santidade com que Adão fora criado.
Mas, como pode o homem nascer de novo? A expressão “nascer outra vez” não foi usada pela primeira vez por nosso Senhor em sua conversa com Nicodemos: era bem conhecida antes daquele tempo, e estava em uso comum entre os judeus ao tempo em que nosso Senhor apareceu em meio deles. Quando um pagão adulto se convencia de que a religião dos judeus era do Senhor e desejava unir-se a ela, era costume primeiro batizá-lo, antes que fosse admitido à circuncisão. E quando era batizado, dizia-se ter nascido outra vez, o que queria dizer que, o que dantes era filho do diabo, era agora adotado na família de Deus e contado como um de seus filhos. Essa expressão, pois, nosso Senhor emprega em conversa com Nicodemos; somente a emprega num sentido mais forte do que estava acostumado a ouvi-la. O fato só pode verificar-se espiritualmente: o homem pode nascer de cima, nascer de Deus, nascer do Espírito, o que tem analogia muito próxima com o nascimento natural.
Daí manifestamente ressalta qual seja a natureza do novo nascimento. É aquela grande mudança que Deus opera na alma, quando Ele a chama para a vida, quando Ele a levanta da morte do pecado para a vida da justiça. É a mudança operando em toda a alma pelo poderoso Espírito de Deus, quando ela é “criada de novo em Cristo Jesus”, quando é “renovada segundo a imagem de Deus, em justiça e verdadeira santidade”; quando o amor do mundo se muda em amor de Deus, o orgulho em humildade, a impetuosidade em mansidão; o ódio, a inveja, a malícia num sincero, terno e desinteressado amor a toda, a humanidade. O novo nascimento é a mudança pela qual a mente terrena e diabólica se transforma na “mente que havia em Cristo Jesus”.
Para que fim é necessário nascer de novo? Primeiro, à santidade. Não é uma religião meramente exterior, um amontoado de obrigações externas. A santidade não é menos do que a imagem de Deus impressa sobre o coração. Não é outra coisa senão toda a mente que havia em Cristo Jesus. Ora, esta santidade não pode existir enquanto não formos renovados na imagem de nossa mente. Até que, revestidos do poder do Altíssimo, formos tirados “das trevas para a luz, do poder de Satanás para o poder de Deus”, isto é, até que tenhamos nascido de novo!
Seja, pois, esta tua contínua oração, se já não experimentaste aquela graça interior de Deus: “Senhor, permite-me nascer de novo! Retira-me o que quer que te pareça bem retirar-me, e dá-me somente isto: ser nascido do Espírito, ser contado entre os filhos de Deus! Permite-me nascer, não de semente corruptível, mas incorruptível, pela palavra de Deus, que vive e permanece para sempre. E então, deixa-me diariamente crescer na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo!”.
John Wesley (Sermão 45[1], adaptado)
[1] www.metodista.org.br/sermoes-de-john-wesley-disponiveis-para-download.