10 de Abril
Leitura bíblica: 1ª João 5.1-5
Se o mundo não existe principalmente para amar a Deus, mas para que Ele nos ame, ainda assim, esse mesmo fato se dá, num nível mais profundo, por nossa causa. Se Ele, que existe em si mesmo e não precisa de nada, opta por precisar de nós, é porque precisamos que precisem de nós. O cristianismo que aprendemos agora ensina que, por trás de todos os relacionamentos de Deus para com o homem existe um ato divino de pura doação – a eleição do ser humano, a partir da não-existência, para tornar-se o amado de Deus, e, portanto (em certo sentido), o necessário e desejado de Deus. Ele não deseja nada a não ser esse mesmo ato, já que tem e é toda a bondade eternamente. E esse ato é devido a nós. É bom conhecermos o amor; e melhor ainda é conhecer o melhor objeto de amor: Deus.
Mas, seria uma forma falsa de conhecê-Lo se considerássemos a própria natureza das coisas. Ou seja, conhecê-Lo como se tivesse um amor cujos pretendentes fôssemos primariamente nós, e Deus fosse o pretendido, o qual nós estivéssemos buscando. É como se nós o tivéssemos achado para se conformar às nossas necessidades, e não o contrário. Não passamos de criaturas; nosso papel tem de ser sempre o do paciente para o agente, da fêmea para o macho, do espelho para a luz, do eco para a voz.
Nossa atividade mais nobre deve ser a de resposta e não de iniciativa. Experimentar o amor de Deus de uma forma verdadeira e não ilusória é, portanto, experimentá-lo como uma entrega às suas exigências; nossa conformidade para com o seu desejo. A experiência contrária significa, por assim dizer, um atentado contra a gramática do ser.
C.S. Lewis
[Adaptado de: “O Problema do Sofrimento”].