12 de Março
Leitura bíblica: Romanos 10.5-8
Sois capazes de “amar a Deus que todo vosso coração”, de amar a toda a humanidade como à vossa própria alma, de “orar sem cessar, de em tudo dar graças”, de ter a Deus sempre diante de vós e de guardar toda afeição, desejo e pensamento na obediência e essa lei? Deveis também considerar que a justiça da lei requer, não apenas obediência a cada mandamento de Deus, negativo e positivo, interno e externo, mas do mesmo modo exige que a obediência se mantenha em grau perfeito. Assim, de acordo com a sentença da lei, para o que tenha pecado uma vez, de qualquer modo, “permanece apenas uma tremenda expectação de ardente ira, que devorará os adversários de Deus”.
Não é, pois, loucura das loucuras, procurar o homem decaído alcançar a vida através dessa justiça? Ora, todas as considerações que provam a loucura de confiar na “justiça que é da lei”, igualmente provam a sabedoria que há no submeter-se o homem à “justiça que é de Deus pela fé”. Reconhecermos que conosco trazemos para o mundo umas naturezas corruptas, pecaminosas. Mais corrupta, na verdade, do que poderíamos à primeira vista conceber ou encontrar palavras que o traduzissem. Reconhecermos que nossa vida não tem sido melhor do que nossos corações, sendo antes ímpia e perversa sob muitos aspectos, de modo que nossos pecados atuais, tanto em palavras como em obras, são, pelo número, como as estrelas do céu? Reconhecermos que, por todos esses motivos, estamos desagradando àquele cujos olhos são demasiadamente puros para contemplarem a iniquidade, e que de Deus nada merecemos, senão indignação, ira e morte – as recompensas atraídas pelo pecado? E esta não é a verdadeira condição em que por natureza nos encontramos?
Reconhecê-lo, pois, tanto de coração como por palavras, isto é, renunciar à nossa própria justiça, à “justiça que é da lei”. É proceder de acordo com a natureza das coisas e, consequentemente, é gesto de verdadeira sabedoria. A sabedoria de submeter-se à “justiça da fé” transparece, ainda, desta consideração: o ser ela a justiça de Deus. Quero dizer: ela é o método de reconciliação com Deus, escolhido e estabelecido por Ele próprio, não apenas como Deus de sabedoria, mas como soberano Senhor dos céus e da terra e de todas as criaturas. Pode-se considerar, ainda, que é de graça espontânea, de imerecida misericórdia, que Deus outorga ao pecador o roteiro da reconciliação consigo mesmo, para que não sejamos desligados de sua mão e inteiramente riscados de sua memória. Por isso, qualquer que tenha sido o método que Deus, por sua terna misericórdia e imerecida bondade, tenha se dignado apontar, no intuito de que achem graça à sua vista os seus inimigos, os que tão insensatamente se rebelaram contra Ele, mantendo-se em longa e obstinada oposição ao Criador.
Ora, o melhor fim a que pode almejar a criatura é a felicidade em Deus. O melhor fim a que pode aspirar à criatura decaída é recuperar a graça e a semelhança de Deus. Nem digas em teu coração: “não posso ainda ser aceito, por que não sou ainda bastante bom”. Quem jamais houve que fosse bastante bom para merecer aceitação por parte de Deus? Houve dentre os filhos de Adão algum suficientemente bom para merecer isto? Haverá, porventura, ainda algum, até a consumação de todas as coisas? Quanto a ti, não és bom de forma alguma: em ti não há nada de bom. E nunca o serás, até que creias em Jesus. Ao contrário, serás cada vez pior. Todas as coisas já estão dispostas. “Levanta-te e lava-te de teus pecados.” A fonte está jorrando. Agora é o tempo de te branqueares no sangue do Cordeiro; agora serás purificado como “com hissopo” e “serás limpo”: Ele te lavará e “serás mais puro do que a neve”.
Ele terá misericórdia, não porque seja digno dela, mas porque sua compaixão não falha. Não porque sejas justo, mas porque Jesus Cristo fez propiciação pelos teus pecados. Em conclusão: quem quer que sejas, ó homem, que trazes a sentença de morte dentro de ti mesmo, que te sentes pecador condenado e tens a ira de Deus pendente sobre ti, a ti diz o Senhor: “faze isto – obedece perfeitamente a todos os meus mandamentos – e viverás”; mas, “crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo”. “A palavra da fé está próxima de ti”: agora, neste instante, no momento presente e no teu estado atual, pecador como és, exatamente como estás, crê no Evangelho; e “Eu serei misericordioso para com tua injustiça e de tuas iniquidades jamais me lembrarei”.
John Wesley John Wesley (Sermão 6[1], parte 2, adaptado)
[1] www.metodista.org.br/sermoes-de-john-wesley-disponiveis-para-download