17 de Fevereiro
Leitura bíblica: Atos 26.24
E assim diz o mundo todo, os homens que não conhecem a Deus, de todos aqueles que são da religião de Paulo: de todos aqueles que são, então, seguidores dele, como ele foi de Cristo. É verdade, existe uma espécie de religião; mais do que isto, ela é chamada de Cristianismo também, que pode ser praticada sem qualquer culpa, o que é geralmente consistente com o bom-senso; ou seja, a religião da forma, uma série de deveres exteriores, executados de uma maneira decente e regular. Você pode acrescentar ortodoxia nisto, um sistema de opiniões corretas; sim, e alguma quantidade de moralidade pagã; e, ainda assim, não muitos irão afirmar que “muita religião os tornou loucos”. Mas, se você almeja a religião do coração, se você fala da “retidão, e paz, e alegria no Espírito Santo”, então, não demorará muito antes que sua afirmação termine, “Tu estás fora de ti”.
E não é um elogio que os homens do mundo fazem a você aqui. Eles, pelo menos uma vez, dizem o que eles querem dizer. Eles não apenas afirmam, mas cordialmente acreditam que está louco aquele que diz que “o amor de Deus está espalhado em todo” seu “coração pelo Espírito Santo dado a ele”; e que Deus o tem capacitado a regozijar-se em Cristo “com alegria inexprimível e cheio de glória”. Se um homem está, de fato, vivo para Deus, e morto para todas as coisas aqui embaixo; se ele continuamente vê a Ele que é invisível, e assim, caminha pela fé, e não pela vista; então, eles consideram que este é um caso claro: além de qualquer discussão, “muita religião o deixou louco”.
É fácil observar que a coisa determinante que o mundo considera loucura é este extremo desprezo por todas as coisas temporais, e a firme busca pelas coisas eternas; esta convicção divina das coisas que não são vistas; este se regozijar no favor de Deus, neste feliz e santo amor de Deus; e este testemunho do Seu Espírito em nosso espírito de que somos os filhos de Deus. Ou seja, na verdade, todo o espírito, vida e poder da religião de Jesus Cristo.
Tal é a natureza; tais são os efeitos danosos daquele monstro de muitas cabeças, o Entusiasmo! De cujas considerações, nós podemos agora traçar algumas inferências claras, com respeito à nossa própria prática.
Em primeiro lugar, se o entusiasmo for um termo, embora tão frequentemente usado, ainda assim, tão raramente entendido, cuide para que você não fale o que você não conhece; não use a palavra, até que você a entenda. Como em todos os outros pontos, então, igualmente neste, aprenda a refletir antes de falar. Primeiro, conheça o significado desta palavra difícil; e, então, a use, se for necessário.
Em segundo, lugar, se tão poucos, até mesmo entre os homens cultos, quanto mais entre os de tipo comum, entendem esta palavra obscura e ambígua, ou têm alguma noção fixa quanto ao que ela significa, então, cuide de não julgar ou chamar qualquer homem de entusiasta, sobre um relato comum. Quanto mais mal ele contém, mais precaução você deverá ter em como aplicar isto a alguém; levar tão pesada acusação, sem prova completa, sendo tanto consistente com a justiça, quanto com a misericórdia.
Mas, se o entusiasmo for um mal tão grande, cuide para que você não se emaranhe nele. Vigie e ore, para que você não caia em tentação. É fácil atacar aqueles que temem ou amam a Deus. Ó, cuide para que você não pense sobre si mesmo, mais do que deveria pensar. Não imagine que você conseguiu a graça, que você não obteve, de Deus. Você pode ter muita alegria; você pode ter uma medida de amor; e, ainda assim, não ter a fé viva. Clame por Deus, para que Ele não permita que você, cego como está, saia do caminho; que você engane a si mesmo, de que é um crente em Cristo, até que Cristo seja revelado em você, e até que Espírito Dele testemunhe com seu espírito que você é um filho de Deus.
Cuide para que você não seja um colérico, perseguindo entusiastas. Não imagine que Deus o chamou para destruir (justamente o contrário do espírito Daquele que você chama de seu Mestre) as vidas dos homens, e não para salvá-las. Nunca sonhe em forçar os homens para os caminhos de Deus. Pense por si mesmo, e deixe que pensem. Não use de constrangimento nos assuntos de religião. Mesmo com respeito a estes que estão bem fora do caminho, nunca os obrigue a entrar, seja por um, ou quaisquer outros meios do que a razão, verdade e amor.
Por fim, cuide para não imaginar que você obteve a finalidade, sem usar os meios que conduzem a ela. Deus pode dar os fins, sem quaisquer meios, afinal; mas você não tem motivos para pensar que Ele irá. Portanto, constantemente, e cuidadosamente, use de todos esses meios que Ele tem designado como canais extraordinários de Sua graça. Use todos os meios que tanto a razão quanto as Escrituras recomendam, como condutivos (através do livre amor de Deus em Cristo), tanto para obter, quanto para aumentar alguns dos dons de Deus. Assim, espere crescer diariamente naquela religião pura e santa, que o mundo sempre chamou e sempre irá chamar de “entusiasmo”; mas que, a todos que são salvos do real entusiasmo; do Cristianismo meramente nominal, trata-se “da sabedoria de Deus, e do poder de Deus”; da gloriosa imagem do Altíssimo; “da retidão e paz”; a “fonte de água viva, brotando para a vida eterna!”.
John Wesley – Adaptado
[Editado anonimamente na Memorial University of Newfoundland com correções de George Lyons para a Wesley Center for Applied Theology.]