LIÇÕES

Devocional 19-03

19 de Março

Leitura bíblica: João 3.8

Como se apresenta o que é “nascido do Espírito”, isto é, nascido de novo, nascido de Deus? Que vem a ser filho de Deus, ou ter o Espírito de adoção? O que é o novo nascimento? Bem, desejo salientar, do modo mais claro, os sinais do novo nascimento, exatamente como os encontramos na Escritura. O primeiro desses sinais, que também serve de fundamento a todos os outros, é a fé. Diz Paulo: “somos filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus” (Gl 3.26). Aqui, o apóstolo não fala de uma fé meramente ideal ou especulativa; não fala de simples assentimento à proposição: “Jesus é o Cristo”, nem, na verdade, a quaisquer proposições contidas em nosso credo, no Velho ou no Novo Testamento. A verdadeira e viva fé cristã, que determina seja nascido de Deus quem quer que a possua, é não somente assentimento, que é ato da mente, mas uma disposição operada por Deus em seu coração, “uma segura confiança em que Deus, pelos méritos de Cristo, perdoa seus pecados e restaura-o no seu favor”. Isto implica em o homem primeiro negar-se a si mesmo; implica em rejeitar completamente toda “confiança na carne” para ser “achado em Cristo”, ou para ser aceito por meio Dele; implica em reconhecer que, “não tendo com que pagar”, não confia nas próprias obras nem possui justiça de qualquer espécie.

Tal sentimento de pecado, unido à plena convicção, que nenhuma palavra pode expressar, de que somente de Cristo vem-nos a salvação, fazendo-se tal convicção acompanhar de profundo desejo de salvação, tudo isso deve preceder à fé viva, à confiança em Cristo, o qual “pagou por nós, pela sua morte, nosso resgate, e cumpriu a lei em sua vida”. Essa fé, pela qual somos nascidos de novo, é, pois, “não apenas crença em todos os nossos artigos de fé, mas também uma verdadeira confiança na misericórdia de Deus, através de nosso Senhor Jesus Cristo”. O fruto imediato e constante dessa fé, pela qual somos nascidos de Deus, o fruto que de modo algum pode separar-se dela, nem sequer por uma hora, é o domínio sobre o pecado.

Outro sinal bíblico dos que são nascidos de Deus é a esperança. Falando a todos os filhos de Deus que estavam dispersos, assim se expressa Pedro: “bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo sua abundante misericórdia, gerou-nos de novo para uma viva esperança” (1ªPd 1.3). Uma vívida ou viva esperança, diz o apóstolo, porque há também uma esperança morta, como existe uma fé morta; uma esperança que não vem de Deus, mas do inimigo de Deus e do homem. Esta esperança implica, primeiro, no testemunho de nosso próprio espírito, ou consciência, de “andarmos em simplicidade e piedosa sinceridade”; segundo, no testemunho do Espírito de Deus, “testificando com nosso espírito”, ou a nosso espírito, “que somos filhos de Deus”, e, pois, “herdeiros de Deus e com Cristo”.

Nós, que, em maior ou menor número, somos filhos de Deus, recebemos, em virtude de nossa filiação, precisamente o espírito de adoção, pelo qual nós clamamos: “abba Pai”! Nós, os apóstolos, profetas, mestres; nós, que servimos de instrumento para que vós outros cresceis, ministros de “Cristo e despenseiros dos ministérios de Deus”. Como nós e vós temos um só Senhor, assim temos um só espírito; como temos uma só fé, assim temos também uma só esperança. Nós e vós somos selados num mesmo “Espírito de promessa”, penhor de vossa e de nossa herança; o mesmo Espírito testificando com vosso e com nosso espírito “que somos filhos de Deus”.

Deste modo, se cumpre a Escritura: “bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados”. Qualquer que seja o sofrimento experimentado antes, logo que “chega aquela hora, não se lembra das dores, vencidas estas pela alegria” de haver alguém nascido de Deus. Pode ser que muitos dentre vós agora experimenteis tristeza, porque estais como “alienados da comunidade de Israel”, visto terdes consciência de que não possuis esse Espírito e de que estais “sem esperança e sem Deus no mundo”. Quando, porém, vier o Consolador, “então se alegrará vosso coração”, “vossa alegria será transbordante” e “ninguém vos arrebatará esse gozo” (Jo 16.22). “Regozijai-vos em Deus” – dirá ele – “através de nosso Senhor Jesus Cristo, por quem agora recebemos a propiciação”, “por quem temos agora acesso a essa graça”, a esse estado de graça, de favor, ou de reconciliação com Deus, “em quem permanecemos, e regozijamo-nos na esperança da glória de Deus” (Rm 5.2). Amém!

John Wesley – (Sermão 18[1], parte 1, adaptado)


[1] www.metodista.org.br/sermoes-de-john-wesley-disponiveis-para-download